“Eu ansiava versificar você, sem pretensão específica de somente lhe compor alguma rima naturalmente perfeita. Meu real desejo era lhe prender em versos, em palavras bonitas que ditassem o compasso da nossa relação, daquele mesmo amor que arranca o ar dos nossos pulmões, ruborizava sua face quando tocava sua pele. Eu posso ser um tolo por pensar que seria capaz de poetizar você, sem nem ao menos entender a poesia, sem compreender uma métrica ou entender de versos tão assim decassílabos; acreditei estupidamente que era detentor da capacidade de trovar nosso amor, de lançar cantigas de amigo por toda a rua e somente os apaixonados entenderiam. Eu estava errado, meu bom amor. Jamais seria capaz de encontrar caminhos determinados que aprisionem essa andorinha que é seu coração; por isso me desfiz do corpo de homem, dos braços de um lutador, e tornei-me um pássaro para buscar você entre as nuvens, nesse céu imenso, atravessar o tempo e fazer ninho ao seu lado em algum pessegueiro solitário, escondidos daqueles que ainda se prendem a métrica do amor. Sejamos então, minha boa senhora, os desgarrados da paixão.”
Indomável